Macaxeira, a rainha do Brasil

Macaxeira, a rainha do Brasil

A macaxeira pode receber diversos nomes a depender da região do Brasil. Independentemente de como é chamada, é evidente a presença deste alimento ou de algum derivado da macaxeira na dieta do povo brasileiro.

A lenda indígena

Em uma certa tribo indígena a filha do cacique ficou grávida. Quando o cacique soube deste fato, ficou muito triste, pois seu maior sonho era que a sua filha se casasse com um forte e ilustre guerreiro. No entanto, agora ela estava esperando um filho de um desconhecido. À noite, o cacique sonhou que um homem branco aparecia a sua frente e dizia para que ele não ficasse triste, pois sua filha não o havia enganado e que ela continuava sendo pura. A partir deste dia, o cacique voltou a ser alegre e a tratar bem sua filha. Algumas luas se passaram e a índia deu a luz a uma linda menina de pele muito branca e delicada, que recebeu o nome de Mani . Mani era uma criança muito inteligente e alegre, sendo muito querida por todos da tribo. Um dia, em uma manhã ensolarada, Mani não acordou cedo como de costume. Sua mãe foi acordá-la e a encontrou morta. A índia desesperada resolveu enterrá-la dentro da maloca. Todos os dias a cova de Mani era regada pelas lágrimas saudosas de sua mãe. Um dia, quando a mãe de Mani fora até a cova para regá-la novamente com suas lágrimas, percebeu que uma bela planta havia nascido naquele local. Era uma planta totalmente diferente das demais e desconhecida de todos os índios da floresta. A mãe de Mani começou a cuidar desta plantinha com todo carinho, até que um dia percebeu que a terra à sua volta apresentava rachaduras. A índia imaginou que sua filha estava voltando à vida e, cheia de esperanças, começou a cavar a terra. No lugar de sua querida filhinha encontrou raízes muito grossas, brancas como o leite, que vieram a tornar-se o alimento principal de todas as tribos indígenas. Em sua homenagem deram o nome de MANDIOCA, que quer dizer Casa de Mani.




A macaxeira pode receber diversos nomes a depender da região do Brasil. Independentemente de como é chamada, é evidente a presença deste alimento ou de algum derivado da macaxeira na dieta do povo brasileiro. Alimento presente também em momentos importantes da história e da formação da nação brasileira. Serve de base para muitos pratos doces e salgados que compõe nossa identidade gastronômica.

A macaxeira é a terceira maior fonte de carboidratos nos trópicos, ficando atrás apenas do arroz e do milho. É um dos principais alimentos básicos no mundo em desenvolvimento, existindo na dieta de mais de meio bilhão de pessoas.

O nome dado ao caule do pé de macaxeira é maniva, o qual, cortado em pedaços, é usado no plantio.

Trata-se de um arbusto que teria tido sua origem mais remota no sudoeste da Amazônia e que mesmo antes da chegada dos europeus, já era cultivado como alimento.

Macaxeira, mandioca, aipim, castelinha, mandioca-doce, mandioca-mansa, maniva, maniveira, pão-de-pobre, mandioca-brava e mandioca-amarga são termos brasileiros para designar a espécie Manihot esculenta.

As denominações mais comuns como “aipim” e “macaxeira”,entre outras já citadas, são usadas para os tipos com baixa toxicidade e que podem ser consumidos in natura. Tanto as mandiocas de uso industrial que são tóxicas, quanto as de uso doméstico se enquadram nessa especiação.

Poucos sabem que a mandioca é venenosa (mandioca-brava) e que nesse sentido é bem diferente da macaxeira. A mandioca venenosa contém uma substância ácida chamada cianídrico.

Esse ácido possui um íon que combinado com o ferro, no sangue humano e de animais bloqueia a recepção do oxigênio causando o sufocamento.

A mandioca possui teor acima de 50 partes por milhão de cianídrico, enquanto a macaxeira tem um índice bem menor.

Para a mandioca ser consumida sem causar a morte ela precisa passar por vários processos que eliminam o ácido cianídrico.

A partir da mandioca podemos obter a farinha, a goma, a tapioca, etc.

A mandioca não deve ser cozida como fazemos com a macaxeira. Por isso é preciso saber identificar a planta que tem características físicas bem parecidas.

O que se vende nas vendas e nos mercados é macaxeira, própria para o consumo direto, mas se você for a uma plantação de macaxeira e de mandioca, dificilmente conseguirá distinguir uma planta da outra.

A produção regular de farinha no Brasil começou com os jesuítas, quando estes construíram os primeiros aldeamentos para descimento de índios. Com os missionários volantes sendo substituídos por missões sedentárias, os aldeamentos começam a se situar a uma pequena distância das povoações coloniais para lhes servir de apoio quando necessário; dar prioridade a áreas litorâneas próximas a mangues e embocaduras de rios de modo a proteger o litoral contra ataques estrangeiros; treinar militarmente os índios para juntarem-se às tropas de guerra armadas contra inimigos internos (índios bravos) e externos (a pirataria das nações européias). Muito rapidamente, o consumo da farinha se generalizou mesmo nos engenhos reais e nas casas ricas.

Existe uma variedade de farinhas feitas à base de mandioca, entre elas a farinha da terra (ou de pau), a farinha de guerra (a mesma farinha de pau mais seca, usada nas viagens por ser mais durável), e por fim a farinha puba (feita da macaxeira e própria para a feitura de beijus, tipo de biscoito também mais durável que a bolacha de farinha de trigo).

Os mantimentos, de que se sustentavam os moradores do Brasil do Século XVI e XVII, brancos, índios e escravos de Guiné, eram diversos, mas o que se tornou um dos principais e melhores: a mandioca. Raiz de um pau, que se planta de estaca, o qual, em tempo de um ano, está em perfeição de se poder comer, e, por este mantimento se fazer de raiz de pau, lhe chamaram em Portugal de farinha de pau.

A importação de escravos africanos na mão de obra da produção de açúcar, aumentaram a demanda de alimentos e especialmente a demanda da farinha que, mais que qualquer outro produto, era facilmente guardada e transportada, e ainda resistia aos atropelos do tempo e do clima. As culturas da cana e da mandioca coexistiram muitas vezes na mesma propriedade. A produção do açúcar dependeu da produção de farinha para alimentar escravos e toda a população dos engenhos.

Ao longo do tempo, com o fim do chamado ciclo da cana-de-açúcar na história brasileira, as casas de farinha continuaram fazendo parte do dia a dia das vilas e dos povoados rurais ou litorâneos do Nordeste, se mantendo como parte importante da alimentação e da estrutura comercial dessas regiões até os dias modernos.

O processo de produção da farinha é complexo e requer muito trabalho físico.  A começar pela preparação do roçado, onde a vegetação mais baixa dos tabuleiros é cortada a foice, técnica conhecida também por “broca”.  No terreno brocado se junta alguns amontoados de galhos, tocos de madeira e folhas da poda que são depois de secos, queimados. A própria cinza enriquece o solo e o carvão também é reaproveitado.  Essa técnica de roçado é conhecida pelos indígenas como “mandiotuba” e já era utilizada antes da chegada dos Europeus.

Infelizmente essa técnica também esgota o solo rapidamente e causa a expansão de novos roçados e consequentemente de mais área desmatada.

Em nossa região é em setembro que se inicia o preparo da terra para apenas em Janeiro, com a chegada das primeiras “chuvas do caju”, ter início o plantio da mandioca.  Feijão verde e milho dividem espaço nos roçados de mandioca que tem uma vida mais longa e requer um processamento mais complexo.

Daí a grande importância das casas-de-farinha que nada mais são do que áreas de beneficiamento da mandioca para o consumo.

Depois de colhidas as raízes do roçado, elas seguem para a casa de farinha, onde são descascadas, umedecidas em água para amolecer e fermentar, piladas ou raladas, transformadas em massa, prensadas, escorridas, torradas e peneiradas.

Além da farinha também é extraída a fécula, amido ou polvilho da mandioca.

Este processo antigamente envolvia homens, mulheres e crianças e podia durar dia e noite quando aconteciam as chamadas farinhadas. Apareciam os sanfoneiros, violeiros, brincantes do coco de zambê e entre goles de cachaça, café com frevilhado e muita alegria, o trabalho rendia a noite inteira.

 

O frevilhado

 

Nos anos 30, Chico Amara teve a idéia de misturar à goma uma porção maior de coco seco ralado, ao que usara para fazer o “grude”, criando sem querer o Frevilhado, que se tornou a principal guloseima de nossa terra.  O frevilhado é uma espécie de tapioca com coco seco ralado que tem aproximadamente 8cm de diâmetro e sabor autêntico, muito apreciado pelos nativos e pelos primeiros veranistas da Praia da Pipa. Dona Maria Alves, filha do inventor do Frevilhado, criou toda a família com a venda de produtos derivados da mandioca, principalmente o frevilhado.



Casas de farinha de Pipa

 

Houveram várias casas de farinha na Praia da Pipa de outrora.  A primeira do saudoso Velho Castelo, pai da também saudosa Domitila Castelo da Silva. Outras casas de farinha que também atendiam todos os cantos da Praia da Pipa eram as de João Pegado, de Chico Marcelina, de Tereza Castelo, de Zé Gago e de Manoel Lopes. Muitas delas eram ao longo da Av. Baía dos Golfinhos onde hoje se encontram lojas e comércios.

Os agricultores que não possuíam casa de farinha própria, alugavam a casa de farinha de outros proprietários para o beneficiamento da colheita.  O aluguel era pago em “conga” que nada mais é do que um percentual da produção. A cada trinta cuias de farinha, seis ficavam para o proprietário da casa de farinha.

A última casa de farinha da Praia de Pipa foi a de Manoel Lopes que foi demolida em 1982.

 

Casas de farinha hoje em dia

 

Hoje o processo das casas de farinha é muito menos manual e conta com certa modernização e maquinários que auxiliam e potencializam a produção.

No estado do Rio Grande do Norte, a mandioca ganhou relevância, principalmente, por sua tolerância às severas condições climáticas do semiárido, que abrange cerca de 85% do território potiguar (SEBRAE, 2006). Cultivar essa raiz para alimentação do homem ou dos rebanhos torna se uma das poucas opções econômicas para muitos pequenos agricultores potiguares.

A cadeia produtiva da mandioca, com uma base agrícola em 99 municípios potiguares e abrigando centenas de casas-de-farinha no Rio Grande do Norte, abre novas perspectivas de geração de empregos, fornecendo alimento básico à população e produzindo fécula para mercados industriais estratégicos em expansão.



Fonte:

-  Simonetti, Ormuz Barbalho (2012). A Praia da Pipa do Tempo de Meus Avôs. 1 edição. Natal, RN.

- SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio à Pequena e Média Empresa. Mandioca no Rio Grande do Norte: raiz do Desenvolvimento. Natal, 2006.

- http://www.historiarn.blogspot.com.br/2013/03/os-engenhos-de-farinha-no-seculo-xvii.html

- http://www.agricultura.pe.gov.br/interna.php?p=sara&id=macaxeira-x-mandioca

- http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/viewFile/1276/757



Por Isaac Ache. Texto originalmente publicado na Revista Bora – edição 14 - Nov/Dez 2015




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